A Fazenda da Dona Blanquita
por Vovó Hilda
Prólogo
Num cantinho tranquilo do campo, onde o ar cheira a terra fresca e flores silvestres, onde o canto dos pássaros desperta cada manhã e o sol banha os campos com luz dourada, existe um lugar especial. É uma fazenda pequena mas cheia de vida, cuidada com amor por duas pessoas que entendem que a verdadeira riqueza não se mede em dinheiro, mas na felicidade de todos os seres que chamam de lar esse pedacinho de terra.
Esta é a história da Fazenda da Dona Blanquita, um lugar onde os animais não são apenas animais, mas amigos, onde cada dia traz novas aventuras, e onde o amor e o cuidado criam uma família que vai além das espécies. É uma história sobre a importância da companhia, a alegria de dar as boas-vindas a novos amigos, e a gratidão pelas bênçãos simples da vida.
Capítulo 1: A Fazenda ao Amanhecer
A fazenda da Dona Blanquita e do Don Panchito acordava cada manhã com o canto do galo. Don Panchito, um homem do campo de toda a vida, com mãos calejadas mas ternas, levantava-se quando as primeiras luzes da aurora mal pintavam o céu de rosa e laranja.
—Bom dia, minha velhinha —cumprimentava sempre sua esposa com um beijo na testa.
Dona Blanquita, uma mulher miúda mas de energia infinita, já estava preparando café na cozinha. O aroma do café recém-feito misturava-se com o cheiro do pão que ela tinha assado na noite anterior.
—Bom dia, meu velhinho querido —respondia ela com um sorriso caloroso—. O café da manhã já está pronto. Coma bem, porque hoje temos muito trabalho na fazenda.
Depois do café da manhã, ambos saíam para o pátio. Don Panchito com seu chapéu de palha e Dona Blanquita com seu avental florido. Juntos percorriam a fazenda, verificando se tudo estava em ordem.
A fazenda não era grande, mas estava impecavelmente cuidada. Os estábulos estavam limpos, com palha fresca que trocavam todos os dias. Os currais tinham cercas bem mantidas. Os bebedouros sempre tinham água limpa e fresca. Os comedouros nunca estavam vazios.
—Nossos animaiszinhos são parte da nossa família —costumava dizer Dona Blanquita—. Eles merecem o mesmo amor e cuidado que daríamos entre nós.
E assim os tratavam. Cada animal na fazenda tinha um nome, uma personalidade, e um lugar especial nos corações da Dona Blanquita e do Don Panchito.
Capítulo 2: Os Habitantes da Fazenda
No estábulo maior vivia a Senhora Vaca, uma vaca de cor marrom claro com olhos grandes e expressivos. Ela era a mais maternal de todos os animais, sempre preocupando-se com os outros, assegurando-se de que todos estivessem bem.
Cada manhã, quando Dona Blanquita vinha ordenhá-la, a Senhora Vaca a cumprimentava com um suave mugido.
—Bom dia, minha linda —dizia Dona Blanquita, acariciando suas costas—. Obrigada pelo seu leite, que alimenta nossa família.
No curral contíguo vivia o Senhor Boi, um animal forte e nobre, com chifres impressionantes e um coração ainda maior. Era calado e reflexivo, o tipo de amigo que escuta mais do que fala, mas quando fala, suas palavras têm peso e sabedoria.
O Senhor Boi ajudava Don Panchito com o arado. Juntos trabalhavam os campos, um guiando e o outro puxando, numa harmonia perfeita que só vem de anos trabalhando lado a lado.
—Você é meu melhor companheiro de trabalho —dizia-lhe Don Panchito, coçando atrás de suas orelhas—. Não poderia fazer isso sem você.
Em outro curral, aproveitando um lamaçal que Don Panchito mantinha especialmente para ele, vivia o Senhor Porquinho. Ao contrário do que muitos pensam, o Senhor Porquinho era muito limpo fora de seu lamaçal favorito. Era alegre, otimista, e sempre estava de bom humor. Sua risada —ou melhor, seus grunhidos alegres— era contagiante.
—Oinc, oinc! —cumprimentava cada vez que via alguém se aproximar.
E no pasto, onde a grama era mais macia e verde, vivia a Senhora Ovelha. Tinha uma lã branca como as nuvens, fofinha e quente. Era doce e gentil, com uma voz suave que acalmava a todos. Uma vez por ano, Don Panchito tosquiava sua lã com muito cuidado, e Dona Blanquita usava essa lã para tricotar cobertores e suéteres.
—Sua lã nos mantém quentinhos no inverno —agradecia-lhe Dona Blanquita—. Você é uma bênção.
Esses quatro amigos —a Senhora Vaca, o Senhor Boi, o Senhor Porquinho, e a Senhora Ovelha— formavam o coração da fazenda. Eram mais que animais; eram uma família.
Capítulo 3: Um Dia Radiante
Aquela manhã em particular amanheceu especialmente bonita. O sol brilhava com intensidade, mas não era um calor opressor, mas sim um calor agradável e reconfortante. As nuvens no céu pareciam algodões brancos flutuando num mar de azul profundo.
A Senhora Vaca foi a primeira a sair de seu estábulo quando Don Panchito abriu as portas.
—Bom dia, amigos da fazenda! —mugiu com sua voz melodiosa—. Como estão?
O Senhor Porquinho, que já estava acordado e dando voltas em seu curral, respondeu imediatamente com entusiasmo:
—Olá, Senhora Vaca! Bom dia! Como está? Que dia lindo para sairmos e tomarmos sol! Veja como está radiante, parece que o céu está sorrindo.
A Senhora Ovelha, que estava pastando tranquilamente perto da cerca, levantou a cabeça e se aproximou trotando suavemente.
—Olá, amigos, como estão? —cumprimentou com sua voz doce—. Vamos passear no campo? Vamos aproveitar que tem um sol radiante. O que acham?
A ideia foi recebida com entusiasmo. A Senhora Vaca mexeu sua cauda alegremente, o Senhor Porquinho saltou (tanto quanto um porco pode saltar), e todos concordaram que era o dia perfeito para uma aventura.
—Mas primeiro —disse a Senhora Vaca com sua sabedoria maternal— devemos convidar o Senhor Boi. Não podemos deixá-lo sozinho.
Os três amigos concordaram. Tinham razão; seu amigo também merecia aproveitar este dia lindo.
Capítulo 4: O Senhor Boi Solitário
Quando os três amigos chegaram ao curral do Senhor Boi, o encontraram num canto, longe do sol, com a cabeça baixa e uma expressão que só podia ser descrita como triste.
A Senhora Vaca se aproximou primeiro, preocupada.
—Olá, amigo. O que há? Por que você está tão triste? O que está passando por essa cabecinha?
O Senhor Boi os olhou brevemente e depois voltou a baixar a cabeça, sem responder.
O Senhor Porquinho, com sua natureza otimista, não desistiu.
—Vamos, amigo, nos diga o que há. Nós podemos te ajudar. Para isso estão os amigos, não é? Para estar nas boas e nas más.
A Senhora Ovelha se aproximou e suavemente apoiou sua cabeça contra o lado do Senhor Boi.
—Queremos convidá-lo para darmos um passeio —disse com doçura—. Está um dia lindo, e não seria o mesmo sem você.
O Senhor Boi finalmente suspirou profundamente. Quando falou, sua voz era baixa e triste.
—É que… me sinto sozinho. Vocês têm sua própria companhia, mas eu… eu não tenho ninguém como eu. Quando vejo vocês todos juntos, tão felizes, percebo o quanto estou solitário.
Os três amigos trocaram olhares compreensivos. Entendiam perfeitamente o que seu amigo sentia. Todos precisamos de companhia, alguém que nos entenda de forma especial.
A Senhora Vaca de repente se lembrou de algo importante.
—Espere! —exclamou com emoção—. Temos uma surpresa para você! Hoje ouvimos nossa dona dizer ao seu marido que hoje vão chegar novos amigos aqui na fazenda. Novos animais que virão viver conosco!
Os olhos do Senhor Boi se iluminaram pela primeira vez em dias.
—Novos amigos? De verdade?
—Sim! —respondeu o Senhor Porquinho, saltando de emoção—. Ouvimos claramente a Dona Blanquita falar sobre isso esta manhã.
O Senhor Boi sentiu como a esperança enchia seu coração. Levantou-se, mexeu seu rabinho com um movimento que seus amigos não tinham visto há muito tempo, e disse:
—Então, o que estamos esperando? Vamos nesse passeio!
Capítulo 5: O Passeio no Campo
Os quatro amigos caminharam juntos em direção ao campo aberto que se estendia além dos currais. Era um terreno amplo de grama verde salpicada de flores silvestres: margaridas brancas, dentes-de-leão amarelos, e pequenas flores roxas cujo nome só Dona Blanquita conhecia.
A Senhora Vaca caminhava com passo tranquilo e majestoso, aproveitando o sol em suas costas. O Senhor Porquinho trotava de um lado para o outro, cheirando cada flor, cada pedra, cada coisa interessante que encontrava. A Senhora Ovelha pastava delicadamente, saboreando a grama fresca. E o Senhor Boi, com seu ânimo renovado, caminhava com mais energia que em dias.
Pararam junto a um riacho pequeno que corria pela beira do campo. A água cristalina borbulhava sobre as pedras, criando uma música natural e relaxante.
—Não é lindo? —suspirou a Senhora Ovelha, contemplando o reflexo das nuvens na água.
—É perfeito —concordou a Senhora Vaca—. Dias como estes nos lembram o quanto somos afortunados de viver aqui, nesta fazenda, com donos que nos cuidam tão bem.
—E com amigos como vocês —acrescentou o Senhor Boi, sua voz cheia de gratidão.
Comeram grama fresca, beberam água do riacho, brincaram (na medida em que animais de fazenda podem brincar), e simplesmente aproveitaram a companhia mútua e o dia lindo.
Quando o sol estava no mais alto do céu, decidiram que era hora de uma soneca. Deitaram-se juntos numa área especialmente macia do pasto, sob a sombra de uma árvore grande. O Senhor Porquinho começou a roncar quase imediatamente, o que fez os outros rirem antes de eles também adormecerem.
A brisa suave os embalava, o sol os aquecia, e por um momento, o mundo parecia estar em perfeita harmonia.
Capítulo 6: O Retorno ao Entardecer
Quando o sol começou a descer em direção ao horizonte, pintando o céu de tons laranjas, rosas e roxos, os quatro amigos acordaram de sua soneca e começaram o caminho de volta à fazenda.
Don Panchito já os esperava na porta dos currais, com baldes de comida preparada. Dona Blanquita estava atrás dele, com um balde de água fresca.
—Aqui estão meus animaiszinhos preciosos —disse Dona Blanquita com carinho—. Aproveitaram seu passeio?
Como se pudessem entendê-la (e talvez pudessem), todos os animais responderam com seus sons característicos: muuu, oinc, beee, e um mugido profundo do Senhor Boi.
Don Panchito e Dona Blanquita os alimentaram com cuidado, certificando-se de que cada um tivesse comida suficiente. Depois os guiaram a seus respectivos estábulos, onde palha fresca e limpa os esperava para dormirem confortavelmente.
—Descansem bem, meus pequenos —disse-lhes Dona Blanquita—. Amanhã será outro dia lindo.
Os quatro amigos se acomodaram em seus lugares. Apesar de estarem em estábulos separados, todos se sentiam conectados, sabendo que não estavam sozinhos.
O Senhor Boi, antes de fechar os olhos, pensou no que seus amigos lhe tinham dito sobre os novos animais que chegariam. Seu coração se encheu de esperança e emoção. Talvez, só talvez, entre esses novos amigos haveria alguém especial para ele.
Com esse pensamento reconfortante, adormeceu, sonhando com o amanhã.
Capítulo 7: O Grande Alvoroço
Na manhã seguinte, antes de o sol sair completamente, um barulho incomum acordou todos os animais da fazenda.
O som de um motor, o ranger de pneus sobre cascalho, e vozes humanas falando em tons emocionados encheram o ar.
—O que está acontecendo? —perguntou a Senhora Ovelha, espiando pela janela de seu estábulo.
—Não sei —respondeu a Senhora Vaca de seu lugar—. Mas seja o que for, é algo grande.
O Senhor Porquinho, sempre curioso, pressionava seu focinho contra as tábuas de seu curral, tentando ver o que causava tanto alvoroço.
O Senhor Boi levantou-se imediatamente, seu coração batendo rápido. Seriam os novos amigos? Teria chegado finalmente o dia?
Don Panchito apareceu pouco depois, mas em vez de abrir primeiro os estábulos como era seu costume, dirigiu-se para a entrada da fazenda, onde havia estacionado um caminhão grande.
Dona Blanquita estava ao seu lado, com as mãos juntas em emoção.
—Com cuidado, com cuidado —dizia a seu marido—. Temos que descê-los devagar para que não se assustem.
Os quatro amigos observavam com uma mistura de curiosidade, emoção e um pouco de nervosismo. A mudança sempre traz consigo essas emoções misturadas.
Capítulo 8: Os Novos Amigos
Pouco a pouco, Don Panchito começou a descer animais do caminhão. E que variedade de animais eram.
A primeira coisa que o Senhor Boi viu, e o que fez seu coração dar um pulo de alegria, foi outra vaca. Mas não era só qualquer vaca; ela era linda, com manchas perfeitamente simétricas e olhos que brilhavam com inteligência e bondade. Atrás dela vinha outro boi, forte e majestoso.
—Há mais vacas! Há outro boi! —exclamou a Senhora Vaca, emocionada não só por seu amigo, mas porque ela mesma teria mais companhia de sua própria espécie.
Depois apareceu algo que fez todos prenderem a respiração: um cavalo. O Senhor Cavalo era magnífico, com uma pelagem preta brilhante e uma crina que ondulava a cada movimento. Trotava com elegância e graça, seus cascos ressoando musicalmente contra o chão.
E ao lado dele, igualmente linda, vinha a Senhora Égua. Sua pelagem era de um marrom quente, como mel, e se movia com uma graça que parecia dança.
—Nunca tivemos cavalos na fazenda —sussurrou a Senhora Ovelha com espanto—. Como são maravilhosos!
O Senhor Porquinho olhava intensamente, esperando ver se entre os recém-chegados havia alguém para ele. Seu coração saltou de alegria quando viu Dona Blanquita se aproximar de seu curral levando consigo uma porquinha rosada e adorável, com orelhas perfeitas e um rabinho em espiral.
—Aqui está, Senhor Porquinho —disse Dona Blanquita com um sorriso—. Apresento-lhe a Senhora Porquinha. Espero que se entendam bem.
O Senhor Porquinho estava tão emocionado que mal podia conter seus grunhidos de felicidade.
—Bem-vinda, bem-vinda! —exclamou—. Esta é sua casa agora! Tenho tanto para lhe mostrar!
A Senhora Porquinha, que tinha estado um pouco nervosa pela viagem e o novo lugar, relaxou imediatamente ante a calorosa boas-vindas.
—Muito obrigada —respondeu com uma voz doce—. Estou muito feliz de estar aqui.
Capítulo 9: Ovelhas e Mais Ovelhas
A Senhora Ovelha observava tudo com alegria por seus amigos, mas também com uma pequena pontada de tristeza. Todos estavam recebendo companhia, mas para ela… haveria alguém?
Justo quando esse pensamento cruzava sua mente, apareceu Don Panchito, e atrás dele vinham não uma, mas sim duas ovelhas a mais. Uma tinha uma lã quase completamente branca, como a neve recém-caída. A outra tinha manchas cinzas que lhe davam um aspecto único e lindo.
—Olá, minha ovelhinha linda —disse Don Panchito com carinho—. Aqui lhe trago duas amiguinhas mais. Pensei que você gostaria de ter companhia.
A Senhora Ovelha ficou sem palavras por um momento. Depois, com os olhos brilhando de felicidade, se aproximou de suas novas companheiras.
—Bem-vindas! —disse com sua voz mais calorosa—. Estou tão feliz que vocês estejam aqui!
As duas ovelhas novas, que tinham estado ansiosas pela mudança, relaxaram imediatamente.
—Obrigada por nos receber tão bem —disse a ovelha branca.
—Sim, muito obrigada —acrescentou a ovelha de manchas cinzas—. Já nos sentimos em casa.
Capítulo 10: A Grande Reunião
Uma vez que todos os novos animais tinham sido apresentados e acomodados em seus respectivos currais, Don Panchito abriu as portas de todos os estábulos.
—Vamos, amigos —disse com um sorriso grande—. É hora de todos se conhecerem apropriadamente.
Os animais saíram de seus currais um por um, enchendo o pátio da fazenda. Era uma cena linda e um pouco caótica: vacas, bois, porcos, ovelhas e cavalos, todos se misturando, se cheirando, se apresentando.
A Senhora Vaca, fiel à sua natureza maternal, tomou a liderança.
—Bem-vindos todos à Fazenda da Dona Blanquita —anunciou com voz clara—. Aqui somos uma família. Cuidamos uns dos outros, compartilhamos nossas alegrias e nossas preocupações, e vivemos em harmonia.
O Senhor Cavalo, que parecia ser um líder natural entre os recém-chegados, deu um passo à frente.
—Obrigado por nos receberem tão calorosamente —respondeu com uma voz profunda e ressonante—. Minha esposa e eu estamos muito gratos de estar aqui. Prometo que seremos bons membros desta família.
O Senhor Boi, que tinha estado observando a nova vaca à distância, finalmente reuniu a coragem para se aproximar. Quando esteve diante dela, de repente se sentiu tímido.
—Olá —disse simplesmente—. Me chamo… bem, me chamam Senhor Boi. Bem-vinda.
A vaca nova sorriu (na medida em que as vacas podem sorrir).
—Muito prazer, Senhor Boi. Eu sou Rosita. Espero que possamos ser bons amigos.
O Senhor Boi sentiu que seu coração derretia. Rosita! Que nome tão lindo.
—Eu… eu também espero —respondeu, e pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se verdadeiramente feliz.
Capítulo 11: O Primeiro Dia Juntos
Os animais passaram o resto do dia se conhecendo melhor. Passearam juntos por todo o campo, os novos amigos maravilhando-se com o quão lindo era seu novo lar.
O Senhor Cavalo e a Senhora Égua corriam pelo pasto, suas crinas ondulando ao vento, demonstrando a velocidade e graça que os torna tão especiais.
—Nunca tinha visto animais tão rápidos! —exclamou o Senhor Porquinho com admiração.
—Venham, juntem-se a nós —convidou o Senhor Cavalo—. Bem, talvez não possam correr tão rápido, mas podem tentar.
Todos riram (cada um com seu próprio som animal) e tentaram seguir o passo dos cavalos. Não puderam, é claro, mas a diversão estava em tentar.
As três ovelhas —a Senhora Ovelha original e suas duas novas amigas— formaram seu próprio pequeno grupo, pastando juntas e conversando sobre lã, grama, e as coisas que interessam às ovelhas.
—É tão agradável ter companheiras —disse a Senhora Ovelha—. Já amo vocês, mesmo mal conhecendo vocês.
—E nós amamos você —responderam as outras duas em uníssono.
O Senhor Porquinho e a Senhora Porquinha exploraram juntos o lamaçal favorito do Senhor Porquinho.
—Este é meu lugar especial —explicou orgulhosamente—. A lama é perfeita, nem muito líquida nem muito dura.
A Senhora Porquinha mergulhou com deleite.
—É maravilhoso! —exclamou—. Obrigada por compartilhá-lo comigo.
Enquanto isso, a Senhora Vaca, Rosita, o Senhor Boi, e o novo boi caminhavam juntos mais tranquilamente, falando de coisas mais profundas.
—Como são os donos? —perguntou Rosita com curiosidade.
—São os melhores —respondeu a Senhora Vaca com calor—. Dona Blanquita e Don Panchito nos tratam como família. Nunca terão que se preocupar estando aqui.
O novo boi assentiu com apreciação.
—Isso é tudo que um animal pode pedir: um bom lar e bons cuidadores.
O Senhor Boi, que tinha estado caminhando ao lado de Rosita, sentiu que este era o começo de algo especial. Não se atrevia a dizê-lo ainda, mas sentia que tinha encontrado não só uma amiga, mas talvez algo mais.
Capítulo 12: A Noite Especial
Quando o sol começou a se pôr, pintando o céu com as cores do entardecer, Don Panchito e Dona Blanquita chamaram todos os animais de volta aos currais.
Mas desta vez, havia algo diferente. Tinham arrumado os estábulos para que os animais pudessem estar perto de seus novos amigos.
Rosita foi colocada no estábulo ao lado do Senhor Boi. Os dois bois podiam se ver através das janelas de seus estábulos. As três ovelhas compartilhavam agora um estábulo maior. O Senhor Porquinho e a Senhora Porquinha compartilhavam o curral. E os cavalos tinham um estábulo novo e espaçoso, desenhado especialmente para eles.
—Boa noite, meus pequenos —disse Dona Blanquita enquanto servia o jantar—. Descansem bem. Amanhã será outro dia lindo.
Quando todos estavam confortavelmente instalados e comendo seu jantar, uma sensação de paz e felicidade encheu a fazenda inteira.
O Senhor Boi olhou para o estábulo de Rosita.
—Boa noite, Rosita —disse timidamente.
—Boa noite, Senhor Boi —respondeu ela com calor—. Obrigada por fazer meu primeiro dia aqui tão especial.
As ovelhas se aconchegaram juntas, sua lã se combinando numa nuvem macia e quente.
—Boa noite, irmãs —disseram umas às outras, porque já se sentiam como irmãs.
Os porcos, cansados depois de um dia de exploração e brincadeira, adormeceram quase imediatamente, aconchegados um ao lado do outro.
Os cavalos, em seu estábulo novo, observavam as estrelas através de uma janela.
—Este é um bom lugar —disse o Senhor Cavalo à sua esposa.
—Sim, é —concordou a Senhora Égua—. Acho que seremos muito felizes aqui.
Todos os animais, tanto os antigos residentes como os recém-chegados, adormeceram com corações cheios de gratidão e felicidade.
Capítulo 13: A Vista da Janela
Enquanto os animais dormiam pacificamente, Don Panchito e Dona Blanquita estavam de pé junto à janela de sua casa, olhando para a fazenda.
A lua cheia iluminava os campos, as flores que tinham plantado juntos, as plantações que cresciam em fileiras ordenadas, e os estábulos onde dormiam seus queridos animais.
Don Panchito pôs seu braço ao redor dos ombros de sua esposa.
—Minha velhinha —disse com voz cheia de emoção—. Venha olhar pela janela. Veja como está nosso campo, cheio de flores, cheio de nossa colheita, e todos os nossos animaiszinhos, felizes e saudáveis.
Dona Blanquita apoiou sua cabeça no ombro de seu marido, com lágrimas de felicidade nos olhos.
—É lindo, meu velhinho. É tudo que sempre sonhamos.
Don Panchito assentiu.
—O que mais podemos pedir? Temos nossa saúde, temos esta terra que nos dá de comer, temos animaiszinhos que nos dão companhia e alegria. Devemos ser muito gratos a Deus por todas essas bênçãos.
—Muito gratos —concordou Dona Blanquita—. Às vezes penso que as pessoas procuram a felicidade em coisas grandes e complicadas, mas nós a encontramos aqui, no simples, no cotidiano, no cuidado de nossa terra e nossos animais.
Ficaram assim por um longo momento, simplesmente aproveitando a vista, a companhia um do outro, e a profunda satisfação de uma vida bem vivida.
Finalmente, de mãos dadas, foram dormir. Abraçaram-se, disseram “te amo” como faziam cada noite desde que se casaram quarenta anos atrás, fecharam os olhos, e adormeceram até o dia seguinte.
Epílogo: Os Anos Passam
E assim transcorreram os dias, as semanas, os meses, e os anos.
A vida na Fazenda da Dona Blanquita seguiu em seu ritmo pacífico e alegre. Os animais se tornaram uma verdadeira família. O Senhor Boi e Rosita eventualmente se apaixonaram, criando sua própria família pequena quando chegou um bezerrinho que encheu a fazenda com ainda mais alegria.
As três ovelhas se tornaram inseparáveis, conhecidas em toda a fazenda como “As Três Irmãs”. Sua lã era a mais macia e linda, e Dona Blanquita tecia com ela cobertores que dava de presente aos recém-nascidos do povoado.
O Senhor Porquinho e a Senhora Porquinha também formaram uma família, e seus leitõezinhos enchiam o curral com risadas e travessuras.
Os cavalos, com sua graça e beleza, se tornaram os favoritos para as visitas que às vezes a fazenda recebia. Crianças do povoado vinham vê-los, e os cavalos aproveitavam a atenção, sempre gentis e pacientes.
Don Panchito e Dona Blanquita envelheceram juntos, seus cabelos se tornaram completamente brancos, seus passos se tornaram mais lentos, mas seu amor pela terra, pelos animais, e um pelo outro só cresceu mais forte.
Uma noite, muitos anos depois daquele dia especial quando chegaram os novos amigos, Don Panchito e Dona Blanquita estavam novamente na janela, olhando sua fazenda.
—Sabe, minha velhinha? —disse Don Panchito—. Quando era jovem, sonhava em ter riquezas, em viajar pelo mundo, em ter uma vida emocionante.
Dona Blanquita o olhou com curiosidade.
—E você se arrepende de não ter feito isso?
Don Panchito sorriu, apertando a mão de sua esposa.
—De jeito nenhum. Porque me dei conta de algo: eu tive tudo isso. Tive riqueza no amor de nossa família de animais. Viajei pelo mundo cada vez que via um amanhecer novo em nosso campo. E tive a vida mais emocionante de todas: uma vida cheia de amor, de propósito, e de gratidão. Não mudaria nem um único dia desta vida campestre por nada no mundo.
Dona Blanquita sorriu com lágrimas nos olhos.
—Eu também não, meu velhinho. Eu também não.
E assim, rodeados do amor dos animais que tinham cuidado, da terra que tinham cultivado, e do amor que tinham compartilhado, Don Panchito e Dona Blanquita continuaram vivendo sua vida simples mas profundamente rica.
A Fazenda da Dona Blanquita seguiu sendo um lugar especial, um pedacinho de céu na terra, onde o amor, o cuidado e a gratidão criavam uma felicidade que nenhum dinheiro poderia comprar.
Lição
A história de “A Fazenda da Dona Blanquita” nos ensina verdades importantes sobre a vida, o amor e a felicidade:
A verdadeira riqueza não está no dinheiro. Don Panchito e Dona Blanquita não eram ricos em termos materiais, mas eram imensamente ricos nas coisas que realmente importam: amor, família, propósito, e gratidão.
O cuidado e o amor criam família. Os animais da fazenda não eram apenas animais; eram uma família porque eram tratados com amor e respeito. A família nem sempre está definida pelo sangue, mas sim pelo cuidado mútuo.
A amizade alivia a solidão. O Senhor Boi nos ensina que todos precisamos de companhia, alguém que nos entenda e compartilhe nossa experiência. Não devemos nos envergonhar de admitir quando nos sentimos solitários.
Dar as boas-vindas aos outros multiplica a alegria. Quando os novos animais chegaram, em vez de ver ameaça ou competição, os animais originais os receberam com amor. Isso multiplicou a felicidade de todos.
A gratidão é a chave da felicidade. Don Panchito e Dona Blanquita nunca davam por garantidas suas bênçãos. Cada noite agradeciam pelo que tinham, e essa gratidão alimentava sua felicidade.
A vida simples pode ser profundamente satisfatória. Num mundo que constantemente nos diz que precisamos de mais, que devemos fazer mais, ser mais, a história nos lembra que a satisfação vem de apreciar o que temos e de viver com propósito.
O trabalho honesto e o cuidado diligente trazem recompensas. Don Panchito e Dona Blanquita trabalhavam duro cada dia, cuidando de sua terra e seus animais. Esse trabalho diligente criou um lar próspero e feliz.
O amor cresce com o tempo. Depois de quarenta anos juntos, Don Panchito e Dona Blanquita se amavam mais do que nunca. O amor verdadeiro não se desvanece com o tempo; cresce mais forte e mais profundo.
Que esta história nos inspire a apreciar as bênçãos simples da vida, a tratar todos os seres vivos com amor e respeito, e a lembrar que a verdadeira felicidade vem não do que possuímos, mas de como vivemos e a quem amamos. Como na Fazenda da Dona Blanquita, a vida mais rica é aquela cheia de amor, alegria e satisfação.